Clarice, nossa amiga sofre... digo torcedora do América-MG foi celebrar o acesso à 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro e nos presenteou com o texto. Como ela está sem máquina, surrupiou as fotos do site Super Esportes. Vem comigo!
foram cinco anos do mais penoso sofrimento que pude testemunhar em toda a minha vida de americana. o rebaixamento para a série C, em 2004, acabou se mostrando apenas o começo de um longo pesadelo. não bastasse a queda em si, o desempenho do time aniquilava as esperanças da torcida de que aquilo fosse só uma breve fase ruim. campanhas tão vergonhosas que, em 2007, nem a classificação para a série C conseguimos, e ainda fomos rebaixados para o módulo II do estadual. fundo do poço. fora a assombração da recém criada série D, que mostrou que o poço sempre pode ser mais fundo. em 2008, o américa ficou com a última vaga para a série C seguinte, e se não foi aí o início da recuperação, vale ser citado pelo simbolismo do saco cheio: "peraí, série D também já é demais!"
2009 começou com o retorno à elite do mineiro. após uma pré-temporada farta em gols, as esperanças se renovaram. estreamos no mineirão lotado diante do rival atlético e não fizemos feio, o empate de zero a zero foi um resultado justo. não foi uma campanha brilhante – fomos eliminados nas quartas de final – mas nem de longe lembrávamos o time apático dos últimos anos. na impossibilidade de grandes contratações, jovens promissores dividiam o campo com veteranos como euller – o filho do vento! – irênio, evanilson e nosso capitão wellington paulo, todos profundamente ligados a um passado vitorioso do clube. só faltava mesmo um bom técnico para dar a ordem e a motivação nessessárias.
seguindo a direção dos bons ventos que começavam a soprar, um bom técnico foi o que tivemos! para disputar a série C, o américa trouxe ele, givanildo oliveira, o mesmo que nos levou à série A em 1997, o mestre, o maestro, o merecedor de nossas eternas homenagens e gratidões! com tempo para preparar o elenco, o professor givanildo presenteou nossa torcida com o bem mais precioso: a volta da esperança, a constatação de que a classificação era possível e merecida, dentro de campo, na raça, sem depender de combinações loucas ou regras indecifráveis. agora vai!!!
a primeira fase foi impecável. 100% de aproveitamento em casa e apenas duas derrotas, uma delas com o time já classificado e todo desfalcado. classificação antecipada com tanta folga que mesmo uma rodada sem jogar não era ameaça. o sonho estava se tornando realidade!
sabíamos que não seria fácil. nada é fácil para o américa. sabíamos que qualquer que fosse o adversário seria um confronto difícil e equilibrado, mas o brasil de pelotas ainda veio com o peso de uma tragédia na bagagem, e toda a comoção que decorre disso. não fossem eles nossos adversários diretos, provavelmente até eu torceria pelos gaúchos. mas guerra é guerra não há lugar para esses sentimentalismos...
assim começou nossa agoniada semana de 180 minutos (ou seriam nossos 180 minutos de agonia que duraram uma semana?). no domingo, dia 9, o jogo de ida lá em pelotas já deu a dimensão do sofrimento. um zero a zero chorado, numa partida impossível de ser qualificada como "de futebol" devido às condições precaríssimas do campo, e o sacrifício que é acompanhar um jogo desses apenas pelo rádio. há que se ter o coração forte! aliás, foi no mesmo instante – mais precisamente aos 32 minutos do segundo tempo, quando os xavantes erraram a cobrança do penal – que eu tive duas certezas: 1) do coração não morro mais e 2) nada mais nos tirava essa classificação!
a semana passou lentamente, mas o discurso era animador. nada de salto alto, temos que respeitar o adversário, o jogo só acaba quando termina, certo, tudo certo! a ameaça de não haver mais ingressos e a necessidade de ir comprar antecipado também ajudaram a ir preparando o nosso espírito para a agora feliz realidade: estamos voltando, o fantasma do "time pequeno" e dos subcampeonatos está ficando pra trás!
até que ontem bh amanheceu alviverde! bandeiras, camisas, buzinas e muita festa! coração acelerado, vesti a minha histórica camisa que foi usada pelo atacante zé carlos generoso na conquista do mineiro de 1971, me enrolei na não menos histórica bandeira autografada pelos jogadores campeões em 1993 e fui me juntar aos outros quase dez mil americanos no nosso gigante do horto, quase pequeno para tanta emoção! o estádio estava lindo, e a torcida não calava: ôôôôôôô, vamo subir, coelhooooooooo!!!
o jogo começou e com ele a contagem regressiva. o time estava bem, seguro, dominando as jogadas e sem deixar o adversário evoluir. mas não marcava, e zero a zero levava à disputa de pênaltis. mais aflição. só no finalzinho do primeiro tempo, naquela fase que a gente já começa é a querer que acabe logo, veio a redenção! o meia luciano, após receber um lançamento preciso, driblou o goleiro e – perdoem o chavão, mas é inevitável – só não entrou com bola e tudo porque teve humildade!
explode a massa alviverde! o coelhão ainda teve a chance de ampliar antes do fim do primeiro tempo, mas desperdiçou. palmas da torcida e um intervalo de pura expectativa, todos elétricos e encantados pelo golaço!
no início da segunda etapa, o balde água fria. numa falha boba da defesa, os visitantes empataram e assim pegaram para si nossa vantagem e nossa festa, mas não nossa esperança. foram os quinze minutos mais longos do ano. eu já disse que nada é fácil pro américa? a torcida esfriou, e quando cantava era de forma tímida, apreensiva. eu não conseguia ficar sentada e quase me agarrei à grade de tanto nervoso.
foi quando minha tia virou para minha vó (sim, a família toda na arquibancada!) e disse: "mãe, a senhora é que é a pé quente! vamos levantar agora e cantar!" e assim foi, e parece que era a senha para a reação! aos 23 minutos, numa cobrança de falta como só ele sabe fazer, irênio pôs a redonda nos pés do leandro ferreira, que só empurrou para a rede e partiu pro abraço! nova explosão da massa, pulos, abraços, gritos e lágrimas, tantos, tantos, que ainda comemorávamos quando bruno mineiro selou nosso destino com um gol ainda mais lindo que o primeiro. 3 x 1, e a festa não parou nos pouco mais de quinze minutos até o apito do juiz!
é por esse tipo de alegria que a gente percebe porque aguenta tanto sofrimento! quem torce com paixão sabe que vale a pena demais da conta, não tem como descrever a felicidade! e eu tenho certeza que, pelo menos ontem, deus era americano e, lá de cima, tava cantando com a gente:
http://www.youtube.com/watch?v=JOHkisIBcZY&NR=1
lar doce lar, aqui estou
independência, meu caldeirão
do coelho decacampeão!
vamos coelhô!
vamos vencer!
vou caminhar por toda vida com você!
vou repetir:
eu mando aqui!
quero a vitória e com a vitória eu vou sair!
coelhooooooooo!!!
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