quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mais que torcedores, guerreiros

Ser brasileiro, por si só, já faz de cada um de nós soldado, né não? Basta olhar à nossa volta e ver o país em que vivemos, as condições que nos dão pra sobreviver. E conseguimos. Agora, além de brasileiros, somos TOR-CE-DO-RES. A mulherada aqui não dispensa um estádio, não. Não somos torcedoras de sofá e pipoca. Somos torcedoras de estádio, chuva-e-sol e hot dog frio. Não só nós aqui do brógue, não. Mas você, você e você também, certo?

Comecemos pelo valor dos ingressos. 30 reais foi o valor da arquibancada para o jogo Corinthians x Florminense pelas quartas de final da Copa do Brasil ontem. Vale comentar que o salário mínimo é de 465 pilas? Lembrando que nossa Constituição atribui tanta responsabilidade ao dito cujo: salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. Ainda assim, pagamos o preço para assistir ao espetáculo classificado como "Ópio do Povo".

Transporte público está longe de ser um dos orgulhos de nossa terra, né? Ainda assim, o utilizamos para chegar aos templos. Quer dizer, quando é possível fazê-lo. Afinal, o Morumbi, por exemplo, não conta com estação de metrô próxima, tampouco zilhares de linhas de ônibus o atendem. Quando não dá mesmo, apelamos pros nossos carrinhos ou pras caronas e aí... Onde largar os bichos? Em estacionamentos próximos? No domingo, dia da estreia do Timão contra o Colorado no Pacaembu, o valor dos estacionamentos era de 30 mangos! TRINTA! Daria pra deixar na rua, então? Daria, se tivéssemos uma excepcional...

Segurança pública. Policiamento que age como melhor lhe convém, claro. Se você é torcedor, já tem inclinação pro mau comportamento. É o que parece. No entanto, os malditos flanelinhas e cambistas agem normalmente onde quiserem. E aí nós, aqueles que só queriam assistir a um joguinho, somos prejudicados ao extremo: ficamos sem ingressos porque estes bandidos têm acesso aos bilhetes antes de nós, reles mortais, e somos extorquidos pelos "amigões" que se oferecem a tomar conta daquilo que eles pretendem destruir, caso não sejamos cúmplices de suas atitudes.

Já é uma vitória termos conseguido pagar o ingresso, chegar ao estádio, entrar e ficar num lugar bacaninha. De repente, o primeiro bocejo. Por quê? Porque estamos cansados depois de um dia inteiro de batalha, digo, trabalho. Olhamos pro relógio e vimos que já são 21h50 de uma quarta-feira, horário maravilhoso previsto pra início da partida. E sabe por que ela ainda não começou? Porque a Maya ainda não conseguiu dizer ao Raj que o filho é, na verdade, de Bahuan, aquele dalit nada auspicioso. Até o elenco segunda linha inteiro de O Clone dançar e tudo, mais de 22h. O que significa, claro, que não haverá mais metrô funcionando quando acabar a partida. E o mesmo ocorrerá com muitas linhas de ônibus, o que torna quase impossível a volta de quem mora na periferia.

Guerreiros. Somos guerreiros.

E que vantagem Maria leva em tudo isso? - alguém poderia perguntar.

Minha resposta? Se você nunca esteve num estádio, experimente. E depois que você tiver a oportunidade de comemorar pela primeira vez um gol, ali, in loco, a gente volta a conversar*.

* Embora tenha tido vontade de chorar ontem aos 6min do primeiro tempo, quando o Dentinho sacudiu a rede tricolete, a minha vontade maior naquele instante era a de explodir a Globo e todos os que abaixam a cabeça pra que ela decida o horário das partidas transmitidas. Porque respeito é bom e torcedor, por mais guerreiro que seja, gosta bastante deste item.

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