quarta-feira, 6 de maio de 2009

Conversê com Pelé

Depois de ser uma entre os milhares de participantes a responder a um quiz de forma correta na firma em que trabalho, fui sorteada para ser uma das 200 pessoas que participariam do Bate-papo com o Pelé, exclusivo para os funcionários desta portentosa empresa que paga o meu salário. Caio Ribeiro, ex-São Paulo e atual TV Globo, seria o mediador.
Confesso que fiquei feliz por ser escolhida porque, apesar de eu não simpatizar nada com o cidadão, estaria frente à frente com um dos mitos do esporte bretão que tanto amamos.




O lado brincalhão e descontraído veio à tona já no início do bate papo quando questionado sobre o Corinthians e a lenda dele não gostar do clube. "Como eu poderia ter raiva do Corinthians se ele me deixou ganhar durante 18 anos?" foi a resposta marcada pelas risadas no auditório lotado. Claro que eu soltei aquele clássico rá rá rá porque corinthiano que se preze, embora recém-coroado campeão paulista, não esquece suas feridas mais profundas. Caio ainda perguntou se era verdade que os jogadores santistas diziam fazer a feira antes dos jogos contra o Corinthians por terem certeza da garantia do bicho pela vitória. Pelé, rindo, respondeu que estes eram os dizeres que Carlos Alberto, aquele que já fazia feira e churrasco contando com o dinheiro do prêmio pela vitória.

Quando indagado sobre como era ser o Pelé, ele respondeu que, quando pequeno, odiava com todas as forças este apelido. Tinha orgulho de ser Edson, já que sua mãe o batizou assim pois houve a coincidência do seu nascimento e da chegada da luz elétrica a Três Corações. Ele sempre achou elegante chamar-se Edson em homenagem ao Thomas, aquele que inventou a lâmpada elétrica. Pelé era o principal motivo de suas visitas à diretoria da escola, por sempre encrencar com os meninos que o chamavam assim. Como todo apelido, o nome Pelé ganhou força justamente pelo fato do Edson não gostar dele. Hoje, no entanto, a situação mudou completamente e Pelé é o motivo de orgulho de Edson.

Questionado sobre a diferença entre os jogadores da década de 70 e os atuais, comparou as partidas de futebol a shows e os jogadores a artistas. Segundo ele, na década de 70 os artistas eram melhores que os atuais, porém não havia a TV para transmitir suas performances. "Antigamente, o cara precisava fazer 1.000 gols para ser conhecido" foi a frase usada pra exemplificar a diferença gritante ao que acontece nos dias de hoje, em que qualquer um marca um gol num jogo de várzea e a internet já o disponibiliza para o mundo todo. Ainda enfatizou que antes era muito mais marcante as funções de cada jogador. Os atacantes eram responsáveis pelos gols e os zagueiros pela defesa. "Hoje, a tática é 10-1. Quando o time está com a bola, todo mundo ataca. Quando perde a bola, todo mundo defende".

A inevitável pergunta sobre a troca do amor à camisa pelo dinheiro foi feita. A resposta de Pelé veio numa simulação da apresentação dos jogadores aos seus novos clubes.



O clima gostoso de bate-papo continuou e logo alguém tocou no ponto sensível da semana: a final do Campeonato Paulista. Perguntado sobre a sensação sentida no terceiro gol do Corinthians na Vila Belmiro, segundo de Ronaldo na partida, ele respondeu que, ao ver a bola tocar a rede, teve a certeza de que a taça ficaria mesmo na capital paulista. Disse que Ronaldo é um jogador que faz diferença, pois ele pegou apenas quatro bolas durante a partida, converteu duas em gol e quase fez o terceiro. Citou a habilidade que Ronaldo possui de conduzir a bola e levantar a cabeça para ver o posicionamento não só de seus companheiros, mas de seus adversários. Lembrou que o atacante do Timão observou o posicionamento de Fabio Costa durante a partida, inclusive citando que o goleiro parecia um zagueiro de tão adiantado que estava. Pelé ainda citou uma brincadeira que faz com os jogadores de meio campo novato "Você não tem de olhar pra bola. Depois de dominada, ela não vai fugir de você porque ela não tem pernas. Se o goleiro tiver um enfarte e cair em campo, corre-se o risco de ninguém chutar a gol porque está todo mundo sempre olhando a bola". Ele ressaltou que este é o diferencial de Ronaldo.

Questionado sobre a permanência de Dunga na seleção, Pelé respondeu que no início apoiou a escolha e apoia a permanência do atual técnico, porque ele conseguiu coisas que o público não enxerga, por exemplo o rompimento das panelinhas de jogadores e o fim dos pitacos de empresários que queria seus jogadores expostos na vitrine verde-amarela. Ainda ressaltou que, apesar das dificuldades como falta de tempo pra treinamento e entrosamento dos jogadores, Dunga tem conseguido muitas coisas. Disse, ainda, que o maior problema da seleção é a baixa qualidade do conjunto proporcional à qualidade individual das estrelas do time. Perguntado sobre uma sugestão de nome para a seleção brasileira, Pelé não exitou e apontou Hernanes do São Paulo como alguém que merece ser convocado.

Outra inevitável pergunta foi feita: o que Pelé achava de Neymar. Ele disse que o acha um menino bastante bom, esmagado pela pressão da imprensa e do público. Comparou a situação de Neymar à do Lulinha, que foi transformado em estrela e logo desapareceu por não suportar a pressão. "É fácil ser bom quando não se é conhecido". Acrescentou que, ao se tornar um pouco conhecido, o técnico adversário já pede marcação maior, uma beliscada no tornozelo. E aí é que se destaca quem é bom e quem não é. Ainda explicou que Neymar tem características bem diferentes de Robinho. O primeiro tem qualidade de passe, enquanto que o segundo é finalizador.

O palpite de três ou quatro favoritos para ser Campeão Brasileiro não foi dado. Em compensação, Pelé citou como clubes brasileiros favoritos ao título da Copa Santander Libertadores o São Paulo e o Sport. Destacou ainda o Boca Junior que, segundo ele, não importa o quão mal das pernas esteja, parece renascer dentro da Libertadores.

"Prefiro ficar com o meu timinho do Santos" foi o comentário que fez ao dizer como negou o convite do Presidente Lulla para tornar-se novamente Ministro do Esporte.

Ressaltou ainda que desde a época do Cosmos recebe convites para ser treinador de equipes, mas sempre recusou. Somente aceitou agora o convite para ser o treinador da equipe Onze Santander. Como patrocinador da Copa Libertadores, o Santander montou uma equipe com jogadores escolhidos por internautas e jornalistas da América Latina. O time representará o torneio em ações de marketing, porém só fará um jogo no encerramento da competição, contra o vencedor do torneio. Assim, além de Embaixador do torneio, Pelé é o técnico da equipe formada pelos brasileiros Washington, Luís Fabiano e Thiago Silva, pelos chilenos Aléxis Alejandro Sánchez e Gary Alexis Medel Soto, pelo colombiano Falcão García, pelos mexicanos Jared Francisco Borghetti Echavarría e Pavel Pardo Segura, pelo equatoriano Joffre David Guerrón Méndez, pelos argentinos Martín Palermo e Roberto Carlos Abbondanzieri e pelo uruguaio Washington Sebastián Abreu Gallo.

E por que mesmo eu mudei minha opinião em relação ao Pelé? Porque ele foi extramamente acessível, não fugiu de nenhuma pergunta das pessoas e, ainda, quebrou todos os protocolos do evento que não previam autógrafos pro povo (ele pediu que alguns fossem sorteados para ele autografar as camisas), fotos com geral, enfim... Ele foi da massa!


* Ao final do conversê, onze rabudos foram sorteados e ganharam a camisa do Onze Santander autografada pelo Pelé. Preciso falar que um dos rabudos é esta que vos escreve? ;-)

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