sexta-feira, 17 de julho de 2009

Era uma vez

Era 1994. Eu tinha 16 anos. Segundo ano do segundo grau. Era apaixonada pelo meu vizinho desde os 13 (rararara). Ia na matinê do Mello Tênis Clube. Gostava de futebol, mas já tinha desistido de torcer pra qualquer clube do Rio. Sobrou a seleção. Aquela que eu sempre vi naufragar, desde a remota lembrança da tristeza do meu pai em 82, até os tocos mais vívidos, em 86 contra a França e 90 contra Argentina.

Nessa copa, eu tinha uma amiga, que era minha vizinha na rua. Éramos xarás. Não lembro bem como ficamos amigas, mas combinamos de assistir todos os jogos juntas. Revezávamos uma na casa da outra a cada jogo. O esquema era: uma traz a pipoca e a outra o suco de maracujá. Sim, senhoras e senhores: SUCO DE MARACUJÁ. Eu já fui uma pessoa que não tomava cerveja e não tinha dinheiro pra comprar coca-cola. Suco de Maracujá era opção mais válida além de ajudar a controlar todo nosso desespero a cada partida. E essa copa foi linda, teve LEONARDO, teve RAÍ *suspiros*

Assistir os jogos na casa dela era engraçado, era uma casa de quintal enorme com uma mangueira gigante na frente, um cachorro vira-latas mau humorado chamado Barão. Uma mãe portuguesa que era TRICOLOR fervorosa, e que se ajoelhou no chão e agradeceu a Deus pelo gol do Branco que salvou a gente no jogo contra a Holanda.

Tava tudo muito bom, o Brasil chegou na final. Era domingo. Dia 17 de Julho. Aniversário da minha mãe. Segundo o revezamento, era pra eu ver a final na casa da minha amiga, mas EU NÃO PODIA. Era aniversário da minha mãe e meus avós iriam lá em casa pra isso, não pra ver o jogo. Seu Arthur, meu falecido avô, odiava futebol, e não satisfeito, gostava de secar. E ficava torcendo pra Italia. E falava um monte de abobrinhas, e eu, puta da vida.

Resolvi me trancar no quarto pra ver o jogo sozinha e sofrer no meu cantinho. Eu, minha pipoca, meu suco de maracujá. Nada de gol, e o tempo passava e ia pra prorrogação. Mais desespero e nada de gols. Aí foi pros pênaltis e eu pensei AGORA FUDEU.

Aí entra meu pai, um cara super tranquilo 24/7, no meu quarto, puto da vida com Seu Arthur, que não parava de secar o Brasil e diz que vai terminar de ver o jogo comigo porque "tá foda lá na sala".

E o resto da história, vcs já sabem. O Baggio chutou pra torcida e deu o título pra gente, aquele que toda a minha geração ainda não tinha visto. Aquela sensação que só nossos pais até então tinham sentido. Eu saí gritando pro meu avô que não adiantou secar e desci. Fui pra rua encontrar minha amiga, que não viu os pênaltis porque tava ajoelhada no terraço da casa dela cantando "na torcida são milhoes de treinadores" (tipo, OI NÉ? HAHAHAHAH). Eu também vi meu vizinho quando desci, mas era muito monga pra se aproveitar do calor da situação.

Voltando pra casa eu peguei uma pilot e desenhei na porta do meu armário vários bonequinhos representando todos os jogadores do escrete, várias paradas escritas sobre, nenhum registro fotográfico (a falta que fazia uma câmera digital). No fantástico daquela noite, falava-se sobre Romário, que foi criado no bairro "pobre e humilde da Vila da Penha" - MENTIRA, ERA CORDOVIL, CARALHO. Mas estávamos todos felizes e comemorando pelas ruas que, teoricamente foram onde Romário se criou.

A amiga eu nunca mais vi, o vizinho eu nunca cheguei a pegar, o armário foi vendido, e meus avós se foram pouco depois da copa seguinte. :(

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