Aos dez dias de setembro de 2001, o Sr. Walter Feldman assinou em São Paulo a Lei Estadual 10.876 que explicita em seu Artigo 1º
É obrigatória a execução do Hino Nacional Brasileiro em todos os eventos esportivos realizados no Estado.
No meu entender, foi aí que começou o imenso desrespeito a um dos símbolos desta sofrida nação. Em cumprimento à supracitada lei, 10 minutos antes do início das partidas futebolísticas, todos são agraciados com a melodia que nos faz recordar que ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante. Tudo seria perfeito se:
a-) os times estivessem perfilados em campo aguardando a execução do hino;
b-) os policiais que estão ali para manter a ordem no galinheiro estivessem em seus devidos postos, em posição apropriada;
c-) o trio de arbitragem já estivesse posicionado no centro do gramado;
d-) a torcida estivesse em silêncio;
e-) fosse executado de maneira decente, com um sistema de som com um mínimo de qualidade e um CD pelo menos não muito riscado.
No entanto, o que se tem visto são atos comparativos a uma cusparada na bandeira nacional. Exagero? Pode até ser, mas é assim que eu vejo.
10 minutos antes das partidas da Série A do Brasileirão, por exemplo, é quando começam as transmissões televisivas. Se você atentar ao que está acontecendo no estádio, perceberá que, enquanto os comentaristas cumprimentam os telespectadores e a propaganda come solta no centro da tela, há uma musiquinha chumbrega sendo executada ao fundo. Sim, senhoras e senhores, é o Hino Nacional Brasileiro sendo executado de um CDzinho riscado, naquele sistema de som que você reza para que não seja o seu carro sendo anunciado, porque não dá pra entender absolutamente nada, enquanto seu goleiro bate um papo com Deus, o bandeirinha aproveita pra tirar a bituca de cigarro que grudou no cravo da chuteira dele e aquela senhora no meio da torcida arremessa um amendoinzinho doce na cabeça do cidadão que a pisou enquanto subia mais um degrau.
Quantas vezes não tomamos chamadas na escola porque não respeitamos a execução do Hino? Quantas vezes nossas avós não nos mandaram ter educação? E pra quê? Pra que o nosso Hino fosse tratado como uma musiquinha de micareta sendo executada em segundo plano.
Não adianta virem dizer que "é pra fixar a letra". Que letra? Aquela que não dá pra entender? Daquela musiquinha que não dá pra ouvir porque a torcida está gritando o nome de seus jogadores? O pior é que não é só em São Paulo que esta babaquice de lei vigora. No Ceará também. Em São Paulo já existe uma proposta para que o Hino seja executado somente na primeira e na última disputa do torneio esportivo, qualquer que seja ele.
Enquanto isso, o Galvão vai continuar berrando, o lateral esquerdo vai continuar cuspindo, o moleque na arquibancada vai continuar dando um pedala no coleguinha, tudo isso ao som da doce melodia da qual deveríamos nos orgulhar.
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